São chamadas turmas multisseriadas aquelas turmas onde temos alunos de várias “séries” na mesma sala. Isso mesmo, várias séries e não vários “níveis” porque a diferença de nível existe em todas as turmas, mesmo que sejam de alunos da mesma série.
A prática de aulas com turmas multisseriadas é mais comum do que se imagina! São comuns em zonas rurais, comunidades indígenas, locais de difícil acesso, com baixa quantidade de alunos e com carência de profissionais.
Uma grande problemática das escolas onde existem as turmas multisseriadas está relacionada a formação dos docentes. A grande maioria dos professores não têm a formação exigida pela legislação para atuarem nas escolas. A falta de material didático e de alguns recursos básicos nesses ambientes também são entraves rotineiros na realidade das classes multisseriadas.
Por esses e outros aspectos, as turmas multisseriadas são consideradas um grande desafio. Nelas precisam ser trabalhados conteúdos diferentes que precisam ser conciliados. O professor precisa pensar na melhor maneira de distribuição dos alunos na sala e existe também a preocupação constante de avançar no aprendizado sem deixar ninguém para trás.
Essa prática não é considerada a ideal, mas, devemos levar em conta que pode ser a única oportunidade que aquela criança tem de aprendizado e aquisição de conhecimento naquele momento e, quem pode melhorar a qualidade dessa entrega é o professor, que tem o poder de transformar aquele pequeno espaço em algo para toda a vida daquele aluno.
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Boas Práticas em Turmas Multisseriadas
Para começar é preciso conhecer cada criança, seu nível de conhecimento, suas potencialidades, dificuldades e, isso é e não é um problema pois, nas turmas multisseriadas o número de alunos normalmente, é reduzido, o que possibilita uma melhor troca de informações entre os alunos e ampla construção coletiva do conhecimento.
Uma deficiência que é bastante comum em turmas multisseriadas é a alfabetização. Mesmo alunos considerados alfabetizados, às vezes têm dificuldades em fazer uma leitura fluida, escrever sem grandes erros de ortografia e até mesmo na caligrafia, muitos não reconhecem as letras, os números e nem mesmo as cores.
A partir dessas informações, será possível organizar a sala em grupos, por nível de conhecimento e não por idade e/ou série. A divisão dos alunos por nível de conhecimento possibilita ao professor preparar atividades que serão pensadas conforme as habilidades e capacidades de cada grupo, considerando, também, aquilo que precisam desenvolver.
As atividades coletivas ajudam esses alunos a alcançarem uma meta comum. Colocar próximos os alunos cuja potencialidade de um supra a deficiência do outro também pode impulsionar o desenvolvimento daqueles que tem um pouco mais de dificuldades.
Um grande ponto de apoio é a ideia de empoderar o aluno, promover metodologias que o façam assumir o papel de construtor e condutor do próprio processo de aprendizagem e desenvolvimento, suas opiniões e impressões têm peso significativo para as ações e para a condução das aulas. Uma educação flexível e consciente pode ser a chave para melhorar o processo de aprendizagem. A socialização é um fator determinante para o desenvolvimento cognitivo dos alunos. Valorize as atividades que promovam interação, criação e colaboração entre eles.
O planejamento diário do professor é um ponto importante, pois nele deverá estar claro quais atividades acontecerão de maneira coletiva, o que será ensinado por séries/ níveis de conhecimento e quais tarefas serão individuais. É interessante que, na maior parte do tempo, sejam trabalhadas atividades coletivas, para valorizar a diversidade de conhecimentos e favorecer o aprendizado colaborativo. Para isso, é importante pensar em tarefas que não sejam tão fáceis ou tão difíceis, mas que contemplem etapas de ao menos dois níveis de dificuldade. A sugestão é que seja escolhido um tema para cada aula!
Para as atividades, criar duplas, onde cada criança fique responsável por parte da tarefa, que estará de acordo com o nível de conhecimento que apresenta, mas quem sabe mais também orienta quem sabe menos, assim, todos aprendem com todos.
Também serão necessários momentos para que os alunos da mesma série ou do mesmo nível de conhecimento trabalhem separadamente, para que tenham contato com novos conteúdos programáticos e aprofundem aprendizados mais específicos, assim como o momento das atividades individuais, quando o professor estará lá para tirar as dúvidas que surgirem na execução da atividade.
Uma outra dica para o professor é eleger alguns alunos para serem tutores dos colegas com mais dificuldades, lembrando que o professor deverá acompanhar e mediar essa tutoria bem de pertinho para que seja alcançado o aprendizado desejado.
Mude a prática quantas vezes for preciso, até acertar! Cada grupo de pessoas / alunos é especial e diferente um do outro então vai acontecer sim das estratégias darem certo com alguns e com outros, não. Procure observar qual estratégia atendeu melhor a todo o grupo e passe a aperfeiçoá-la, dê seu próprio toque no decorrer das aulas.
Se for possível, use a tecnologia! Como falamos no início, as turmas multisseriadas são uma realidade das zonas rurais e esses locais dificilmente têm acesso à internet. Verifique quais recursos sua escola oferece que possam ser agregados para melhorar a qualidade das suas aulas.
Escrito por: Alessandra Nicolau